apesar de todo tráfego, de todo trânsito, de todo excesso - andamos todos vazios.
primeiro de um vazio material, pq o capitalismo que nos impõe tantas pseudo-necessidades, não nos dá salários cabíveis para satisfazê-las. e aí é uma seqüência de falta: falta de roupa, falta de acessórios eletrônicos, falta de viagens internacionais, falta de livros interessantes, falta de músicas modernas, falta de carro, falta de bolsas, falta da própria falta.
depois um vazio estético. não existe mais moda, tudo que é ultrapassado virou in, tudo o que é velho virou vintage. ninguém sabe mais se usa a roupa da irmã mais nova, ou da avó. a ordem agora é fazer a própria moda, e aposto, com certeza, que no fundo, mesmo sem parâmetro, ninguém acerta.
(pausa para dizer como odeio expressões como essas que de um momento pro outro, tornam o ultrapassado moderno: in, vintage, oldschool, clássico, enfim..)
aí disso vem o vazio intelectual. os meios de comunicação voltados pra interesses duvidosos, com informações ainda mais duvidosas. filmes que raramente trazem consigo um objetivo didático, educacional, ou, no mínimo interessante. músicas vazia escritas por compositores vazios e interpretadas por cantores absolutamente ocos - só os bolsos andam cheios.
e por último, mas não menos importante, o vazio do espaço que não pode ser mensurado - o vazio do eu. e essa sim é a grande crise da pós-pós-pós-modernidade!
é aquilo de não saber o que querer, e quando consegue, não saber o que fazer.
o vazio dos relacionamentos superficiais, as monogamias sufocantes em conflito com as poligamias forçadas, as inversões de valores, a mudança da infância, a ausência de responsabilidade.
minha mãe tem um jeito interessante de colocar seu espanto com o mundo moderno. já dizia ela: o mundo está acabando minha filha, jesus está voltando.
não sei não se ele volta. se eu fosse ele e pudesse escolher, ficava lá pelo éden, ou curtindo uma harpa no céu, mas numa coisa minha mãe tá certa: realmente está acabando, pq se não acabar, aonde que isso vai parar?